2024 no Educativo do APERS
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No início de 2024 recebemos uma nova equipe de estagiários do curso de História. Com a chegada deles, o primeiro objetivo do ano foi o desenvolvimento de um jogo educativo de cartas, que denominamos “Sala de Pesquisa”. A proposta do jogo é difundir a documentação salvaguardada pelo Arquivo Público, através de seus acervos e fundos, e, ao mesmo tempo, educar sobre o trabalho realizado em arquivos, fazendo uso de conceitos arquivísticos e colocando o jogador no papel de um profissional de arquivo, atuando no tratamento técnico, na classificação de documentos, na preservação e na difusão. O jogo foi desenvolvido pela equipe do educativo do APERS com auxílio do JOGAE, projeto de extensão universitária e grupo de pesquisa em jogos educativos vinculado à Escola de Humanidades da PUCRS. O resultado é um recurso para educação acerca da valorização de arquivos, da preservação do patrimônio e da importância da gestão de documentos que poderá ser distribuído a escolas, projetos sociais e universidades e contribuir em iniciativas de educação patrimonial. Com o protótipo pronto, atualmente estamos buscando formas de viabilizar o investimento necessário para arte e gráfica.
Traçamos como objetivo do Programa tornar as oficinas mais inclusivas. Desde o final de 2023 constituímos uma parceria com o INCLUIR/UFRGS, na pessoa da servidora Marinez Lorenz, para explorar possibilidades de adaptação da oficina Resistência em Arquivo para um público diverso, o que levou os estagiários e bolsistas a trabalhar no conteúdo das caixas educativas para a receber a tradução para braille e opções com fonte ampliada. Percebemos, a partir dessa primeira experiência, a necessidade de agregar ao Programa uma equipe interdisciplinar de professores e estudantes de outras áreas, como o Design e a Arquitetura. Daí surgiu o projeto de extensão “Arquivo para todos - acessibilidade para educação patrimonial em História” que trouxe para discutir recursos didáticos e espaços mais acessíveis a professora Daniela Marzola Fialho, da Arquitetura da UFRGS e os graduandos Uli Tietbohl, do Design, e Luiza Moraes dos Santos e Caroline Sulzbach, da Arquitetura. Foram realizadas visitas técnicas no Museu de Porto Alegre e no CHC Santa Casa para observar experiências de acessibilidade nesses espaços. O trabalho segue atualmente em duas frentes: a produção de uma caixa acessível com recursos braille e fonte ampliada e o desenvolvimento de um conjunto de maquetes táteis do Arquivo. Em setembro, o andamento do Projeto foi apresentado pelo bolsista Uli Tietbohl no Salão de Extensão da UFRGS.
2024 foi marcado pela efeméride dos 60 anos do Golpe de 1964. Em fevereiro, participamos do 2ª Ciclo de Seminários Arquivos, Memória e Direitos Humanos, coordenado pelo professor Jorge Eduardo Vivar, da Arquivologia da UFRGS. Na ocasião, o historiador Gabriel Gaziero apresentou o Programa de Educação Patrimonial, a oficina Resistência em Arquivo e os acervos da Comissão Especial de Indenização a Ex-presos Políticos do Rio Grande do Sul e da Comissão Estadual da Verdade, custodiados pelo APERS. Em abril, fomos convidados a participar da Semana do Direito à Memória e à Verdade: 60 anos do Golpe Civil-Militar, organizado pela equipe da EMEF Ildo Meneghetti, no bairro Sarandi. A iniciativa reuniu exposições, palestras, mostra de filmes e oficinas relacionadas ao tema. O APERS doou para a escola catálogos, fac-símiles de processos de indenização e uma mini exposição com artes de Bruno Ortiz, representando as trajetórias dos ex-presos políticos trabalhadas na oficina, e emprestou banners e o jogo educativo Caso X. Ademais, a equipe do educativo realizou três edições da oficina Resistência em Arquivo in loco com os nonos anos da escola.
Antes de iniciar a temporada de oficinas, a equipe se dedicou a repensar o material de duas caixas da oficina Resistência em Arquivo que não receberam intervenções significativas durante o processo de reformulação de 2023, as que tratam dos processos de indenização de Cláudio Gutierrez e de Eloy Martins. O trabalho realizado nas caixas, pensado a partir de conceitos como a conexão repressiva, luta armada, clandestinidade, movimento estudantil e movimento operário resultou na apresentação, na 17ª Mostra de Pesquisa do APERS, do artigo “Resistência em Arquivo: novos olhares na perspectiva da educação patrimonial para os direitos humanos” de Ana Carolina Golombiewski e Erico Derosso Espindola, a ser publicado em março de 2025. O processo de reformulação do material referente ao processo de Alcides Kitzmann, realizado em 2023, também foi objeto de uma publicação de autoria de Ana Carolina Golombiewski, na Revista Brasileira de Educação Básica, intitulado “Patrimônio, memória e educação: o caso Kitzmann”
Quanto à oferta de oficinas do PEP, tínhamos um planejamento de executar 25 oficinas ao longo do ano, distribuídas em duas temporadas (maio, junho e julho; setembro, outubro e novembro) e uma formação de oficineiros com extensionistas da UFRGS. A nossa primeira temporada de oficinas foi frustrada pela enchente de maio que, apesar de não ter atingido diretamente o Arquivo Público, teve efeitos catastróficos sobre as vidas, as casas, as escolas e as condições de mobilidade de estudantes, professores e oficineiros. Com o cancelamento da primeira temporada, nossos objetivos foram concentrados na segunda, que foi expandida para acontecer entre setembro e dezembro.
Iniciamos a temporada de oficinas com uma formação de oficineiros extensionistas da UFRGS, inscritos ainda em abril, antes das inundações. A atividade, organizada a partir do Projeto de Extensão “PEP - Programa de Educação Patrimonial UFRGS-APERS”, recebeu 11 extensionistas para um total de três encontros de formação e quatro mediações da oficina “Resistência em Arquivo: patrimônio, ditadura e direitos humanos” com o público escolar. A formação foi concentrada em três quintas-feiras e contou com visita guiada ao espaço, leituras obrigatórias e complementares, espaços de formação em História Pública, Educação Patrimonial e Ditadura Civil-Militar no Rio Grande do Sul com as professoras Letícia Brandt Bauer, Melina Kleinert Perussatto e Carla Simone Rodeghero, respectivamente, além de uma oficina simulada com a Equipe do PEP. Apesar do cancelamento da temporada prevista para o meio do ano, foram realizadas 23 oficinas com escolas, universidades, projetos sociais e cursos técnicos profissionalizantes para um público total de 630 pessoas. As ações do PEP foram apresentadas no Salão de Extensão da UFRGS pela bolsista de extensão do Programa, Marina Ribeiro Vieira, em setembro.
Em meio à enchente, nos envolvemos diretamente no resgate e secagem da documentação atingida pelas inundações. Através dos projetos de extensão coordenados pelas professoras Letícia Bauer e Cássia Silveira, desenvolvidos em parceria entre a UFRGS, o APERS e o Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, foram selecionados seis bolsistas emergenciais para auxiliar nas ações de salvamento do patrimônio. Entre os meses de junho e julho a equipe se juntou aos esforços de secagem dos 11 mil mapas de Terras Públicas, pertencentes ao acervo da Secretaria de Habitação, em ação coordenada pelo Arquivo Público, e no resgate do acervo arqueológico do Museu de Porto Alegre. Um relato de experiência sobre o trabalho realizado foi publicado na 30ª edição da Revista de Extensão da UFRGS, com o título “SOS Acervos: relato de experiência extensionista no apoio ao salvamento de acervos museais e arquivísticos alagados em 2024”
Em meio à enchente, fomos convidados, em nome da Professora Anna Maria Martinez Corrêa, a integrar a equipe docente do curso Programa de Formação na Área de Acervos do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP), da UNESP-Assis. O historiador Gabriel Gaziero ministrou o módulo V: Ação educativa e difusão de acervos, no qual abordou as experiências educativas do APERS, além de uma exposição teórica sobre o conceito de patrimônio e patrimonialização no Brasil em perspectiva histórica. Na oportunidade, também foram apresentadas as ações realizadas pelo APERS para o resgate de acervos atingidos, traçando um quadro geral sobre os efeitos das inundações sobre o patrimônio documental do estado do Rio Grande do Sul.
Em agosto, o Programa de Educação Patrimonial se fez presente na programação do UFRGS Portas Abertas, divulgando a prática extensionista e o curso de graduação em História. Para a ocasião, foram preparados materiais especiais para distribuição para o público e foi organizado um espaço de reflexão sobre o patrimônio, a educação e o papel dos profissionais de História, especialmente em instituições arquivísticas. Houve, ao final, um momento de debate em que a equipe buscou tirar dúvidas sobre a prática profissional do historiador, as possibilidades de inserção no mercado de trabalho, o ensino, a pesquisa e as formas de ingresso e permanência na universidade.
Quando retomamos o Programa de Educação Patrimonial, no início de 2023, um dos objetivos que colocamos foi o desenvolvimento de uma nova oficina, voltada ao campo do pós-abolição, que trabalhasse as trajetórias de pessoas negras na cidade de Porto Alegre entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, provocando reflexões sobre o protagonismo dessas pessoas em perspectiva social, política e intelectual, bem como suas estratégias de combate ao preconceito, de associativismo e ajuda mútua, seus modos de vida e espaços de sociabilidade.
O trabalho começou a avançar no final de 2023, com a entrada no projeto das professoras Melina Kleinert Perussatto e Sarah Calvi Amaral Silva, que propuseram a partir das suas pesquisas 14 casos para análise, dos quais foram selecionados sete que seriam desenvolvidos para o material didático. Para isso, foi contratada a estagiária Bruna dos Santos Escouto, mestranda e pesquisadora do pós-abolição, a partir de maio de 2024, para dar os primeiros passos no desenvolvimento do material didático da oficina. Bruna deixou o projeto em setembro após avanços importantes na primeira caixa, que trata de João Moreira, réu em um processo-crime de 1941. No seu lugar passou a integrar a equipe Emmily Soares Bernardes, graduanda em História, a partir de outubro, que está trabalhando na transcrição de documentos de um processo-crime de 1892. Desde então, a equipe pedagógica definiu as bases da metodologia da oficina, bem como concluiu a elaboração das duas primeiras caixas, de João Moreira e Ottilia Pires. Ao final do ano, recebeu contribuições do estágio obrigatório de Patrick Veiga da Silva, que elaborou propostas para a trajetória de Calisto Felizardo de Araújo a partir do apagamento dos espaços que marcaram sua trajetória em Porto Alegre.
No último trimestre de 2024 definimos o contrato a ser realizado por meio da Associação de Amigos do Arquivo Público para a produção das 22 ilustrações que irão compor o material didático da nova oficina, juntamente com fac-símiles dos processos pertencentes ao acervo do APERS e documentos complementares, como fotografias e recortes de jornal de época. A oficina de Educação Patrimonial proporcionará para a comunidade uma experiência voltada à Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER) em consonância com a Lei 10.639/2003 e terá sua primeira temporada de oferta ainda em 2025.
Ao longo do ano reforçamos nossa parceria com a disciplina de Estágio de Docência em História - Educação Patrimonial, conduzida pelas professoras Carmem Zeli de Vargas Gil e Melina Kleinert Perussatto, ao receber sete graduandos em História para seus estágios obrigatórios. Dentre eles, o estagiário Patrick Veiga da Silva, por afinidade com o campo de estudos, se envolveu no desenvolvimento da nova oficina de pós-abolição do Programa, mais especificamente no caso de Calisto Felizardo de Araújo, realizando uma mediação para a turma de estágio, os demais atuaram no aprimoramento dos materiais didáticos e na mediação da oficina Resistência em Arquivo.
Este pequeno relatório traz um pouco da realidade do nosso Núcleo Educativo ao longo do ano que passou. Ele esteve presente em diversas frentes, na educação, na cultura, na inclusão, na defesa dos direitos humanos, trabalhando de forma próxima e colaborativa com nossos parceiros na comunidade, nas escolas e nas universidades. Que 2025 traga novas oportunidades e a continuidade dos projetos em andamento, que continuemos aproximando o Arquivo da sociedade!
Coordenação Programa de Educação Patrimonial UFRGS-APERS
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Gabriel Gaziero (APERS)
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Letícia Brandt Bauer (UFRGS)
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Carla Simone Rodeghero (UFRGS)
Estagiários Educativo 2024 (Estágio Não-obrigatório)
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Ana Carolina Ricardo Golombiewski
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Erico Derosso Espindola
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Bruna Gabriela Santos Escouto
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Emmily Soares Bernardes
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Eduarda Centeno Dias
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Jheinnefer Nazário da Silveira
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Gabriel Siviero Sibemberg
Estagiários Educativo 2024 (Estágio Obrigatório Educação Patrimonial UFRGS)
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Alexia Vaz Souza (2023/2)
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João Pedro Silveira (2023/2)
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Laryssa Flores Fontoura (2023/2)
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Eduarda Centeno Dias (2024/1)
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Jheinnefer Nazário da Silveira (2024/1)
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Juliano Lourenço (2024/2)
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Patrick Veiga da Silva (2024/2)
Bolsistas de Extensão UFRGS 2024
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Marina Ribeiro Vieira
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Uli Tietboehl
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Luiza Moraes dos Santos (voluntária)
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Caroline Sulzbach (voluntária)
Bolsistas de Extensão UFRGS 2024 (Ações Emergenciais Enchente)
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Andressa Barreto Secretti
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Gabriel Belisario Cicconi
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Gabriel Siviero Sibemberg
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Jheinnefer Nazário Silveira
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Lucca Mota Sindeaux
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Tomaz Farina Escosteguy
Extensionistas UFRGS 2024
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Amanda Donay dos Santos
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Eshyley Costa de Almeida
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Fátima de Oliveira Mattos
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Gabriela Luchese Custódio
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Leandro Koehn de Freitas
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Luana Castro Andrade
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Mariluci Cardoso de Vargas
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Matheus Vieira Schmidt
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Oscar Luz
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Sara Martini Ramos
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Thais Marx dos Santos
Parceiros
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Andreia Suris (EEEM Professor Oscar Pereira)
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Anna Maria Martinez Corrêa (UNESP)
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Antonio Jeferson Barreto Xavier (EMEF Ildo Meneghetti)
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Arthuro Grechi (Colégio Bom Jesus Sevigné)
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Carlos Augusto Nunes (Centro da Juventude Rubem Berta)
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Carmem Zeli de Vargas Gil (UFRGS)
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Cássia Macedo da Silveira (UFRGS)
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Cassiane Vieira (EET Ernesto Dornelles e Colégio Stella Maris/Viamão)
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Daniela Marzola Fialho (UFRGS)
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Eduardo Veras (UFRGS)
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Joana Bosak (UFRGS)
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Jorge Eduardo Enríquez Vivar (UFRGS)
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Luciana Brito (Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo)
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Luis Carlos dos Passos Martins (JOGAE-PUCRS)
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Marçal Santos (EMEF Leopoldina Véras da Silveira/Capão da Canoa)
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Marinez Lorenz (INCLUIR-UFRGS)
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Melina Kleinert Perussato (UFRGS)
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Rodrigo Santos (EMEF Pepita de Leão)
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Rosanir Lindemayer (Rede Marista)
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Sarah Calvi Amaral Silva (UFRGS)
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Vicente Schneider (EMEF Ildo Meneghetti)
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Viviane Souza Rodrigues (SENAC)