Conjunto Arquitetônico
O complexo do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul - APERS, localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, é formado por 3 prédios, ocupando uma área total de 5.300 m², sendo 4.374 m² de área construída. A beleza, funcionalidade e relevância do conjunto é fruto de uma trajetória centenária, sucintamente exposta a seguir.
O APERS iniciou suas atividades em 15 de março de 1906 – sete dias após a data oficial de sua criação legal –, instalado, inicialmente, no andar térreo do edifício da Escola Complementar, situado na rua Duque de Caxias, esquina com a rua Marechal Floriano Peixoto, onde hoje encontra-se o Colégio Bom Jesus Sévigné.
Em pouco tempo o local mostrou-se insuficiente para a guarda dos documentos, sendo o Arquivo transferido para o prédio da "Bailante". Tratava-se de um antigo salão de danças localizado onde posteriormente foi edificado o primeiro Auditório Araújo Viana, que por sua vez foi demolido para ceder lugar à atual Assembleia Legislativa do estado. Entre 1908 e 1910, durante o governo de Carlos Barbosa Gonçalves, tiveram início as obras do que hoje configura o prédio I, no terreno de seu endereço atual, à Rua Riachuelo. Dois anos depois, em 18 de novembro de 1912, o prédio foi concluído e habilitado para receber os documentos.
Em função da crescente demanda, em menos de dez anos o espaço já estava repleto de material oriundo de diversos municípios, além da documentação da Capital. Então, em janeiro de 1918, iniciaram as obras de um segundo pavilhão. O projeto e os materiais utilizados foram semelhantes aos do primeiro, o que conferiu uma harmonia arquitetônica, técnica e estética ao conjunto. Um ano e meio após seu início, em 10 de junho de 1919, finalizaram-se as obras do prédio II.
É interessante destacar que ambos prédios foram projetados com características específicas para o armazenamento de documentos. O primeiro, com área de 917 m², é composto por andar térreo, mezanino e porão. Compartimentado em 11 galerias, conta com teto em forma de abóboda, piso vazado, estantes com 6 metros de altura com prateleiras de ferro revestidas de cimento, paredes com espessuras de 1,5 metros, sistema natural de circulação de ar e exaustores elétricos. O segundo, cuja área é de 1.183 m², consiste em um pavimento térreo e mais 2 andares. As paredes têm espessura de 90 centímetros, piso vazado, que permite circulação natural de ar, estantes com prateleiras de ferro revestidas de cimento e exaustores. Essas características técnicas asseguram o melhor controle da temperatura ambiental, além de contribuir para a prevenção de incêndios. À época de sua construção, os edifícios foram considerados inovadores, pelo menos em termos de América Latina, e serviram de modelo e inspiração como espaços de custódia de documentos. A imponência e beleza dos prédios responderam à monumental arquitetura do começo do século XX, de inspiração eclética. Seu jardim interno reforça a harmonia e propicia um espaço de circulação que, por algum tempo, serviu de ligação entre a Praça Marechal Deodoro - Praça da Matriz - e a Praça da Alfândega.
As duas construções foram assinadas e supervisionadas pelo arquiteto Affonso Hebert, então na chefia da Seção de Obras Públicas da Secretaria de Obras do Estado. Ambas foram pensadas como edificações absolutamente inseridas em um projeto de reorganização da área central de Porto Alegre. O primeiro pavilhão constituiria uma espécie de prolongamento da praça Marechal Deodoro, com teto ao nível do solo, propiciando vista para a parte baixa do centro. Foi concebido como edifício arrimo, demarcando e contendo o desnível existente entre a praça e o terreno da rua Riachuelo. Uma escadaria lateral faria a ligação em direção ao rio. O segundo, que compõe um formato de L na lateral direita do anterior, integra-se perfeitamente ao conjunto, o qual, pelo estilo, se harmonizaria com outros edifícios do atualmente denominado Centro Histórico, como o Teatro São Pedro e a Biblioteca Pública. Estava prevista, ainda, uma avenida que ligaria o porto ao palácio de governo, nunca concretizada. Esse grande projeto de delineamento urbanístico, embora parcialmente realizado, e de forma bastante impositiva, aliava monumentalidade e funcionalidade, correspondendo a um valioso exemplo, no plano da arquitetura, do exercício do poder dos republicanos de inspiração positivista.
Completa a área do APERS o prédio frontal à rua Riachuelo, mais recente. Datado de 1950, foi projetado anteriormente, caracterizado por uma arquitetura de linhas retas e sóbrias da década de 1930. Com área de 2.274m², é composto por um andar térreo e mais três andares. É o espaço destinado ao trabalho técnico, metodológico e administrativo da instituição, além de abrigar a Sala de Pesquisa, a Sala de Exposições Joel Abílio Pinto dos Santos e o Auditório Marcos Justo Tramontini.
Embora funcional, sua construção teve o efeito de obstruir a vista, aos transeuntes da rua, das edificações mais antigas. Isso contribui para o desconhecimento, por parcela considerável da população, de obras de grande beleza e valor arquitetônico da cidade. Reconhecendo esse valor, todo o conjunto assim formado foi tombado, em 1991, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (IPHAE – RS), como patrimônio cultural estadual. A valorização do tombamento não veio acompanhada de um correspondente cuidado do poder público com a manutenção dos prédios. Assim, em 1998, uma ação do Ministério Público Estadual, provocada pelo avançado estado de deterioração do conjunto, forçou o empenho de recursos para um projeto de recuperação. Era a primeira vez que o APERS recebia uma intervenção profunda, verdadeiro processo de restauração, que contou com o engajamento ativo de todo o corpo funcional da instituição, a partir de 1999. As obras foram encerradas em 2001, com a devolução revitalizada de um dos mais belos conjuntos arquitetônicos da cidade.
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