Descobrindo o Acervo: Turma da Mônica e o Pró Guaíba
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A infância de muitas gerações foi marcada pelas histórias da Turma da Mônica. Desde 1959, esses personagens criados pelo cartunista Maurício de Sousa tornaram-se ícones culturais e conquistaram o coração de crianças e adultos em todo o Brasil. Durante o tratamento do acervo da extinta Fundação para Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), realizado sob a supervisão do arquivista Fernando Pasquali e com o apoio dos estagiários Vitor Coimbra Neves, Wesley Martins Bitencourt, Filipe Augusto Gomes de Medeiros, Johann Kray Karoly, Laura Hauschild dos Santos e Yuri Prestes da Silva, foi encontrado um item inusitado: uma revista da Turma da Mônica sobre o Programa Pró-Guaíba.
Esse achado despertou a curiosidade da equipe, levando à investigação sobre o contexto da publicação e seu propósito. A revista apresenta Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali em uma viagem ao Rio Grande do Sul, onde as crianças visitam uma das cidades da bacia hidrográfica do Guaíba. Durante a visita, elas brincam próximas a um rio e se deparam com a poluição das águas, ficando impressionadas com a quantidade de sujeira. Em uma cena cômica, ao verem um homem coletando amostras de água, pensam que ele vai bebê-la. Mônica, preocupada, arremessa seu inseparável coelho Sansão para "salvá-lo". Esse encontro, no entanto, leva os personagens a descobrir que o homem trabalha na rede de monitoramento do Pró-Guaíba, uma iniciativa que realizava importantes ações para preservar os recursos hídricos da região.
A história do gibi aborda de maneira lúdica e didática as principais ações do programa, que incluíam a construção de estações de tratamento de esgoto (ETEs), combate à poluição industrial e agrícola, conscientização ambiental, e até mesmo a idealização de um parque paleontológico na região central do estado, rica em fósseis. Esses temas são apresentados de forma acessível ao público infantojuvenil, cumprindo a função de educar e engajar crianças em questões ambientais de forma divertida e envolvente.
O Programa Pró-Guaíba, idealizado em 1989, foi uma das maiores iniciativas de preservação ambiental já implementadas no Brasil, e o maior projeto do gênero no Rio Grande do Sul. Com abrangência territorial de mais de 80 mil km², o programa englobava mais de 250 municípios e era responsável por ações estratégicas voltadas à proteção da bacia hidrográfica do Guaíba. Essa bacia reúne os rios Caí, Gravataí, Jacuí e Sinos, fundamentais para o desenvolvimento econômico e social do estado, pois além de contribuírem significativamente para o PIB gaúcho, suas águas são essenciais para a população e a biodiversidade local.
Entretanto, o Pró-Guaíba não se limitava a ações ambientais. Sua estrutura integrava aspectos políticos e sociais, promovendo a participação popular e respeitando as culturas locais. O programa foi um exemplo de abordagem holística, buscando unir esforços de diferentes setores para promover a preservação ambiental em larga escala. Infelizmente, após anos de impacto positivo, o projeto foi descontinuado em 2012 devido à falta de investimentos estaduais, deixando de atingir seu pleno potencial.
Caso o Programa Pró-Guaíba tivesse sido concluído conforme o planejado, seus impactos teriam sido profundos e de longo alcance. A recuperação das matas ciliares, a melhoria da qualidade das águas e a mitigação da poluição industrial e agrícola teriam contribuído significativamente para evitar ou amenizar os desastres ambientais como as enchentes de 2024. Essas inundações trouxeram danos devastadores ao estado, reforçando a importância de ações preventivas e de planejamento ambiental a longo prazo. A continuidade do programa poderia ter reduzido os riscos de desastres naturais, criando um sistema mais resiliente de gestão ambiental e fortalecendo a segurança das populações que vivem na bacia hidrográfica do Guaíba.
A revista da Turma da Mônica sobre o Pró-Guaíba é especialmente significativa porque, além de divulgar o programa, reforça o papel educativo dos gibis no Brasil. Apesar de ainda não se saber muito sobre a origem dessa publicação, acredita-se que ela tenha sido produzida entre 1995, quando o Pró-Guaíba começou a ser implementado, e 1997, ano da fundação do Instituto Maurício de Sousa. O selo presente na revista indica que foi uma iniciativa da Editora Maurício de Sousa, o que reforça a possibilidade de que este seja um dos primeiros materiais da Turma da Mônica voltados para a divulgação de projetos governamentais.
O uso da Turma da Mônica para abordar questões sociais e ambientais se consolidou ao longo dos anos, contribuindo para formar cidadãos mais conscientes desde a infância. Iniciativas como esta revista demonstram o poder da comunicação visual e de personagens icônicos na disseminação de ideias e valores importantes.
Encontrar esse material no acervo do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS) foi uma experiência que transcendeu a formalidade comum do trabalho arquivístico. Em meio a documentos como contratos, recibos e correspondências, essa descoberta despertou a criança interior de todos os envolvidos, revelando como o trabalho de preservação documental pode conectar gerações e relembrar valores fundamentais. A revista da Turma da Mônica sobre o Pró-Guaíba não é apenas uma peça curiosa; é um registro que ilustra como o Estado buscou inovar na comunicação com a sociedade, engajando públicos diversos em temas de interesse coletivo e fomentando a transparência e a cidadania, pilares essenciais de uma democracia.
Para baixar o gibi, clique no link abaixo.