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Entrevista com Helen Osório - Parte II

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APERS Entrevista
APERS Entrevista - Foto: Divulga APERS

Na semana passada, a historiadora Helen Osório nos falou sobre sua trajetória de pesquisa e sua relação com o Arquivo Público. Vamos conferir a continuidade da entrevista!

2) Como vê a evolução do campo da história agrária nas últimas décadas? E qual o papel das fontes do Arquivo Público nesse desenvolvimento?

Helen Osório - APERS Entrevista
Em destaque a historiadora e professora Helen Osório

A expansão do sistema de pós-graduação no início dos anos 2000, com a consolidação de vários cursos, surgimento de novos, e a ampliação do número de bolsas, fundamental para a dedicação à pesquisa, produziu uma sinergia virtuosa. Vários jovens pesquisadores, logo professores universitários, dedicaram-se ao campo. Pude acompanhar de perto e tornar-me, para minha alegria, interlocutora de Luís Augusto Farinatti, que deu inestimáveis contribuições com seus trabalhos sobre lavradores nacionais (Santa Maria) e sobre a formação, ou desdobramento, de uma sociedade na fronteira, com a constituição de novas elites (Alegrete) para o século XIX. Eu e Zarth trabalháramos com amostras de inventários que cobriam todo o espaço da capitania e depois província. Realizamos trabalhos mais “generalistas”. As novas gerações detiveram-se em espaços mais circunscritos, o que lhes possibilitou um estudo mais aprofundado, verticalizado e dinâmico das realidades, com a utilização de vários tipos de fontes. E, claro, novas questões e objetos foram sendo formulados e novas contribuições historiográficas, notadamente a micro-história, tiveram um impacto muito positivo na produção histórica. Diversos espaços e temáticas foram esquadrinhados por jovens pesquisadores, em suas dissertações de mestrado e teses de doutorado, realizadas em cursos do Rio Grande do Sul ou do sudeste. Sob minha orientação, Arlente Foletto, com seus estudos sobre a paisagem agrária em Itaqui (e depois sobre suas famílias de elite); Graciela Bonassa Garcia, estrutura agrária, conflitos fundiários em Alegrete; Marcia Sanocki, crescimento econômico e desigualdade social em Caxias; Guinter Leipnitz, arrendamento, relações de propriedade e trabalhadores em Uruguaiana; Luciano Costa Gomes, escravidão, camponeses e reprodução social em Porto Alegre; Gustavo da Silva Gularte, paisagem agrária e estrutura produtiva em Jaguarão; Franklin Fernandes Pinto, agregação e pequenos produtores em Jaguarão e Edsiana de Belgrado, propriedade e mercado de terras em Santa Vitória do Palmar e ocupação de terras e circulação de bens na fronteira do Rio Grande. Vários desses historiadores já foram entrevistados pelo blog do APRS. Ciente de várias omissões pelas quais peço desculpas, refiro ainda os trabalhos de Marcio Both da Silva, Leandro Goya Fontella, Sandra Eckhardt, André Nascimento Correa, Leandro Rosa de Oliveira e Marcelo Santos Matheus. Destaco também a tese de Jonas Vargas, “Os barões do charque e suas fortunas”. Todos estes trabalhos não poderiam ter sido realizados sem a existência de um Arquivo Público, que alberga de forma centralizada a documentação judiciária de todo o estado. Este panorama não ficaria completo sem uma menção à produção oriunda da Universidade de Passo Fundo, que vem se dedicando à história agrária do planalto, especialmente na viragem do século XIX para o XX e nas primeiras décadas desse. 

Como apreciação geral, eu diria que todos esses trabalhos, e tantos outros não mencionados, são essencialmente estudos de história social (desvendando hierarquias, grupos, dinâmicas e reprodução social), tendo por locus diferentes espaços da sociedade rural riograndense dos séc. XVIII e XIX (com predomínio desse). Gostaria de destacar, ainda, que direta ou indiretamente, nessas duas décadas do novo século, houve, a meu ver, um diálogo profícuo entre essa produção e os estudos que tem por objeto principal a escravidão. Muitas vezes, o espaço do Arquivo Público foi o local desses encontros e trocas, para além dos próprios textos. O GT de História Agrária da Anpuh- RS foi um espaço privilegiado de discussão e e mútua colaboração. A qualidade e a abrangência desses trabalhos deu um lugar de reconhecido destaque nacional a nossa produção.

Na próxima semana, vamos ler a parte final da entrevista com Helen Osório!

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