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História Oral e Humanidades Digitais: pontos e contrapontos

Publicação:

História Oral e Humanidades Digitais
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Por Rodrigo de Azevedo Weimer e Clarissa Sommer/ APERS

A temática da XXII Conferência da IOHA (International Oral History Association), na qual o Arquivo Público foi representado pelo servidor Rodrigo de Azevedo Weimer, foi “História Oral em um mundo digital e audiovisual”. Ocorreram importantes discussões sobre as Humanidades Digitais em suas relações com a História Oral. Interessante registrar que essa temática vem sendo abordada pelo Arquivo Público em diversos espaços, tanto com a participação de servidores em eventos da área quanto com a promoção de eventos, tais como “Café da Tarde com o APERS: Diálogos sobre Arquivos e Humanidades Digitais” (2020) e  “Linguística, História e Computação: dos acervos aos conhecimentos e vice-versa"(2022)”.  

Os debates realizados se deram em dois sentidos: a divulgação de entrevistas em repositórios virtuais, a exemplo de iniciativas australianas, finlandesas e do Alaska, de consideráveis dimensões, e softwares voltados à transcrição de entrevistas ou sistematização de metadados. Ainda que se tenha ressaltado a qualidade das transcrições realizadas pela Inteligência Artificial, também se observou a dificuldade das máquinas em apreender silêncios e hesitações – fundamentais à sensibilidade do pesquisador em História Oral – e em distinguir homônimos. Esses aspectos suscitaram dúvidas quanto à viabilidade de utilização dessas plataformas que, assim, podem exigir que se leve na correção o mesmo tempo da transcrição manual e, ademais, são pagas e não oferecem garantias de privacidade de dados pessoais por parte das corporações que dominam as ferramentas de IA. Ressaltou-se, ainda, que a modelagem dos algoritmos longe está de ser imparcial, privilegiando recortes classistas, raciais e de gênero, caracterizando determinados linguajares como “corretos” ou “incorretos”.  

Além disso, parte dos participantes pautou o caráter de fonte secundária das transcrições, já que a fonte documental primária é o audiovisual e a oralidade. Assim sendo, houve quem propôs que o maior cuidado fosse dado à indexação de entrevistas, ao invés das transcrições, que, afinal, podem comportar elevado grau de subjetividade. Foi essa a prática adotada pelo Arquivo Público no processamento técnico das entrevistas do Projeto “Documentando a Experiência da Covid-19 no Rio Grande do Sul”, em que uma detalhada indexação foi realizada por meio do OHMS -Oral History Metadata Synchronizer (sistema de livre acesso ligado à Universidade de Kentucky) e depois exportada para o canal do APERS no YouTube, como iniciativa de divulgação, ao invés de sua utilização como repositório. 

Uma preocupação recorrente durante o encontro foi a possível utilização de Inteligência Artificial por negacionistas, já que os recursos tecnológicos podem permitir a emulação de fisionomias e tom de voz no sentido de produção de entrevistas fake. Esses graves perigos ressaltam a importância da implementação do Programa Arquivo Digital, pelo qual o Arquivo Público vem trabalhando, que entre seus pilares prevê a instalação e manutenção, junto à PROCERGS, de um Repositório Arquivístico Digital Confiável (RDC-Arq) aliado a uma plataforma de acesso e difusão, que visam preservação os documentos digitais de forma autêntica e íntegra a longo prazo. Para saber mais, clique aqui e aqui. Sem querer negar os avanços tecnológicos, no que eles podem proporcionar de avanço científico e das práticas arquivísticas, as discussões realizadas na IOHA nos alertam para as precauções necessárias ao seu bom uso. Como diz o poeta Paulinho da Viola: “sem preconceito / ou mania de passado / sem querer estar do lado / de quem não quer navegar / faça como um velho marinheiro / que durante o nevoeiro / leva o barco devagar”. 

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